Entrevista com a vereadora da Câmara Municipal de Maringá, Ana Lúcia Rodrigues. Ela fala sobre a sua avaliação do projeto de lei que criava o Conselho Municipal LGBTI+, que foi rejeitado na Câmara de Maringá em 2021.

A entrevista ocorreu no dia 10 de março de 2022. Quem entrevistou foi Marcus Carr. Quem gravou foi Linda Guzman.

Este projeto foi produzido com verba do prêmio bolsa pesquisa e fazer artístico cultural de Maringá. Recursos oriundos da Lei Aldir Blanc (Lei federal nº 14.017, de 29 de junho de 2020).


# Entrevista com Ana Lúcia Rodrigues

# Apresentação. Qual seu nome? Qual seu cargo?

Eu me chamo Ana Lúcia Rodrigues e atualmente estou ocupando o cargo de vereadora aqui na Câmara Municipal de Maringá.


# Em que momento chegou à atenção da senhora a existência do projeto de criação do Conselho Municipal LGBTI em Maringá?

Como eu tenho um trabalho com o conjunto das políticas públicas aqui de Maringá, dos movimentos, quando as entidades e organizações LGBTQIA+ começaram a pleitear junto ao poder executivo a elaboração de um projeto de lei, cobrar a questão das políticas para essa população, eu já acompanhei um pouco. Inclusive fiz parte de uma reunião que reuniu um conjunto de mais de 10 organizações e eu fui convidada. E com muita alegria eu participei daquela reunião em que praticamente eu estava de participante ouvinte. Porque o conjunto dos argumentos, das discussões para com o prefeito, apresentadas ao prefeito, eram riquíssimas. Tanto que esse movimento das organizações sensibilizou o poder executivo que elaborou o projeto de lei, criando o conselho.


# E quais foram suas primeiras reações ao texto da criação do conselho?

Quando o projeto de lei chegou aqui na casa, eu rapidamente o imprimi inclusive para poder estudá-lo, fazer anotações. Por quê? Eu desde a primeira hora sempre fui uma apoiadora, uma incentivadora da criação do conselho inclusive porque o conselho é uma extensão do poder público, da esfera pública. E nesse sentido então ele vai subsidiar inclusive ao poder público, na elaboração de políticas, na tomada de decisões. Então ele é muito importante. É muito importante por que? Aqui em Maringá, nós temos um grande conjunto de conselhos. A gente tem quase 50 conselhos, que atuam efetivamente. E estes conselhos são de todas as organizações, de todos os segmentos. Então um conselho para a população LGBT era mais do que bem-vindo. E quando eu vi o projeto, como ele foi elaborado pelo executivo, mas já subsidiado pelas demandas, pelas discussões das organizações LGBT, ele chegou já um texto muito bom. E eu fiquei feliz e fui apenas estudá-lo para poder defender na tribuna.


# Se pudesse elaborar um pouco mais a fundo sobre como foi esse processo de análise da legislação do projeto de criação do conselho. Se surgiu alguma dúvida, alguma crítica, algum elogio?

Como eu já falei anteriormente, dúvida realmente nenhuma porque ele estava assim muito claro. Eu acho que inclusive os segmentos que compunham, às vezes a gente percebe, eu que inclusive estudo, eu já participei de vários conselhos, mas também é uma matéria que como pesquisadora das políticas públicas eu já estudei a composição conselho. E nesse conselho, então a gente tinha assim, aquelas organizações que realmente representam os diversos segmentos, os diversos matizes do segmento LGBTQIA+ e nesse sentido uma grande preocupação que eu sempre tenho é a composição. Porque para mim quando eu vou olhar um conselho, eu já vejo quais entidades, e quais organizações, e quais segmentos na verdade, o que a lei define são os segmentos. E aí depois esses segmentos vão se reunir e eleger as entidades que vão compor.

Então eu tenho muita preocupação, porque se a gente não tiver na lei um conjunto de segmentos que efetivamente sejam representativos, ao fim você vai ter um conselho que vai atuar e não vai alcançar os objetivos que tem que ser alcançados. Nesse caso é o conselho de direitos LGBT. É o conselho que vai elaborar as políticas públicas, o que vai subsidiar, que vai dialogar com o poder público na elaboração dessas políticas, que vai levar as demandas. Então a minha preocupação primeira foi essa, verificar se a composição como que ela estava. E no mais a lei ela realmente apresentava as mesmas características e as mesmas, eu diria que o mesmo conjunto de detalhes que são importantes para um conselho que todos os demais conselhos de Maringá possuem.

Se a gente pegar as outras leis dos demais conselhos a gente vai ver. Que inclusive a prefeitura ela dispõe para todos os conselhos, quando se trata de conselho da esfera do poder público, que é o poder público quem está propondo, inclusive é o poder público que também compõe as vezes paritariamente, 50% são da estrutura do poder público e os outros 50% é que são organizações da sociedade, nesse caso ficou desse jeito, tem conselhos que é 60% sociedade e de 40% chamado segmento gov, segmento governamental. Esse tava assim bem legal. E quando são esses conselhos, o poder público oferece uma estrutura para o funcionamento de todos esses conselhos. Inclusive secretaria, divulgação na internet. Por vezes, inclusive, é a própria estrutura da prefeitura, de comunicação da prefeitura, que acaba fazendo a publicação às vezes ao vivo, inclusive, das reuniões. Muitas vezes são transmitidas ao vivo, outras são gravadas e são mantidas no site da prefeitura. Então assim, eu não via ali na lei nenhuma diferenciação em relação aos demais conselhos para garantir o efetivo funcionamento dele.


# Antes da votação da 1º discussão, houve pessoas, partido, ou organizações que entraram em contato com a senhora para falar sobre o projeto?

Houve pouca discussão até a primeira votação. O executivo mandou para cá, tramitou normalmente como todos os demais. E eu fui procurada inclusive por segmentos que representam os direitos LGBT, a própria Comissão de Diversidade da OAB, em algum momento eu me sentei com a comissão para conversar um pouco sobre o projeto. Antes ainda da primeira votação, eu tive uma conversa com 2 representantes da Ordem dos Pastores, mas eram assim conversas tratando das questões da formalidade, da legalidade, não entrava no mérito mesmo da proposta, ficava mais na estrutura de funcionamento etc.


# Essas conversas, reuniões tiveram algum impacto na senhora sobre o projeto?

Não. Tanto que havia uma preocupação das organizações representantes dos direitos LGBT, ou da organização que me procurou pelo menos, exatamente com relação a isso, que eles tinham uma preocupação que pudesse haver alguma reação dos segmentos religiosos, dos segmentos sociais, que não compreendessem, que não conhecem inclusive a questão LGBT, e eu até achava que isso não aconteceria. Porque eu sempre defendi, eu disse ‘não, eu acho que não vai haver problema na votação, não vai ver qualquer oposição’ porque trata-se de garantir para essa população o mesmo direito que todos os segmentos sociais de Maringá tem, entendeu? Nós temos, olha a gente tem Conselho de Transporte, inclusive os usuários têm assento no Conselho de Transporte Público Coletivo. Nós temos Conselho da Cidade, que tem um nome mais complicado, mas é o Conselho da Cidade. Conselho de Habitação. Conselho do Bem Estar Animal. Conselho dos Imigrantes agora, ele já vinha sendo também formatado. Conselho da Juventude. Conselho do Idoso.

Então assim eu ficaria 10 minutos para citar todos os conselhos que nós temos que são a expressão, eu diria inclusive que é a expressão mais elaborada da nossa Constituição, que garante direitos a toda população, e que garante a participação democrática, e incentiva participação inclusive. Se a gente pensar que nós temos um grande sistema centralizado no Governo Federal de educação. Então, o Sistema Nacional de Educação, Sistema Estadual vai repassar dinheiro para a política de educação para cada município, para cada um dos 5.570 Municípios. O governo federal repassa recurso para a educação básica, vamos dar um exemplo. Se o município, seja o tamanho que ele tiver, não tiver um conselho de educação, o recurso não vem, entendeu? Ou seja, os conselhos fazem parte da expressão mais bem acabada da nossa sociedade democrática.

Então participar das decisões de onde os recursos vão ser investidos, a população tem sido chamada, e de fato a Constituição Federal garantiu isso. A chamada constituição cidadã é por causa disso, ela inclui a população nas definições e nas decisões sobre políticas públicas, sobre legislação, sobre os planos setoriais todos, e sobre principalmente orçamento. Então eu imaginava, eu sempre fiz a leitura desse ponto de vista. Maringá é uma cidade participativa. Maringá é uma cidade em que o espetáculo da participação já foi decantado, entendeu? Já foi a participação em Maringá democrática, eu vi sendo apresentado em congressos internacionais. Então jamais, eu esperava que o Poder Legislativo municipal dissesse não a um espaço de participação tão legítimo, tão justo, e sabe, que estava garantido. Então as meninas quando me procuram eu fiz exatamente essa defesa dizendo ‘não imagina, os vereadores são os primeiros a primar pela participação e pela democracia’ mas infelizmente eu estava equivocada.


# Antes da 1º votação, a senhora conversou ou participou de alguma reunião com outros vereadores para discutir o projeto?

Eu só comentei com o vereador, porque eu sou líder da bancada do PDT, então eu tenho um colega que também compõe essa bancada, vereador do meu partido, o PDT. Então eu conversei com ele, que como líder da bancada eu tenho que fazer essa discussão e essa orientação, inclusive em consonância com o que o próprio PDT defende. O nosso partido é o partido que defende as políticas públicas, defende o estado democrático de direito, defende a ampliação da democracia e da participação da população. Então foram as coisas que nós discutimos. Eu cheguei a falar para ele, e ele inclusive se comprometeu em votar favoravelmente e ele votou. Então foi a única conversa que eu tive.


# A senhora sentiu algum tipo de pressão como consequência do seu voto na 1º discussão? Por parte de constituintes, ou por parte de partido?

Não. Não. Ao contrário. O meu partido ele, como eu disse, defende exatamente nessa linha em que foi o meu voto. E por parte dos demais vereadores não porque eu tenho posição muito clara, sempre explícita. Todos sabem quais serão as minhas votações antes de eu votar. Todos sabem as minhas posições porque elas são posições sempre nesse sentido de defesa dos direitos.


# De algum constituinte a senhora chegou a receber algum tipo de retorno, mensagem?

Não. Não. Na verdade não. Inclusive muitas vezes os meus colegas vereadores, às vezes eles comentam dizendo ‘nós estamos recebendo muitas mensagens pelo aplicativo, muitos emails, mensagens nas redes sociais pedindo que eu vote nesse sentido ou naquele’. Talvez exatamente por causa da minha posição mais clara, eu sou aquela que menos recebo. Eu recebo muito muito raramente pedidos para que eu vote nesse ou naquele sentido. E quando as pessoas, como é o caso das educadores, por exemplo, quando as professoras municipais se organizaram para fazer a defesa de uma determinada matéria que tava aqui na casa, eles mandaram para todos os vereadores a mesma mensagem, e muitas delas vinham já embaixo dizendo ‘eu sei que a senhora vai votar com a gente, mas nós estamos encaminhando para todos os vereadores’. Então, eu acho isso muito legal porque fazer o jogo democrático aberto no espaço público, defendendo coerentemente aquelas coisas que eu acredito, e isso me deixa até mais tranquila.

Em muitos momentos quando inclusive os meus colegas às vezes, nem todos, mas alguns reclamam ‘tô recebendo muita mensagem pedindo por isso ou por aquilo’, eu fico quieta assim porque eu não estou recebendo nenhuma. Mas é por isso, porque as pessoas já me identificam mesmo, sabem em relação a maior parte das matérias qual será a minha posição.


# Na votação de adiar a 2º discussão, a senhora votou contrário. O que levou a essa decisão?

Eu votei contrariamente pelo seguinte. Nós tivemos a primeira votação que foi favorável e na próxima sessão entraria em segunda discussão. Eu acho que as questões têm que ser debatidas no plenário. Então entrou na pauta nós temos que reunir os nossos argumentos e trazer a plenário e fazer o debate aqui, público, explícito. E no entanto naquele momento, eu percebi que tinha exatamente isso, eu acho que tinha um certo receio dos segmentos que eram contrários à criação do conselho de que se houvesse a votação em seguida ela se repetisse. Apesar de que eu considero também legítimo. As pessoas foram se organizar para poder tentar demover, alterar o voto que o vereador tinha feito no primeiro momento.

Mas eu não queria. Eu queria que a gente já fosse para o debate na segunda discussão e cada um apresentasse aqui seus argumentos e que a gente votasse ao final. Então foi por isso. Foi de fato para definir já até em função daquela primeira votação. Porque pra te falar a verdade, eu acho que aqui naquele primeiro momento estava explícita a opinião das pessoas. Porque eram o que elas pensavam, eram as opiniões que cada vereador tinha. 10 vereadores, se salvo engano, foram favoráveis. E quando começa a se protelar esse tempo entram em jogo variáveis que são, eu não sei quais variáveis entraram em jogo a ponto de alterar o resultado final. Então eu queria que nós já garantíssemos aquilo que na minha avaliação era a opinião dos meus colegas de fato.


# Houve uma emenda pela: remoção do caráter deliberativo, fiscalizador do conselho.

Foram feitas 22 emendas. Esta é sempre uma que incomoda muito as pessoas. As pessoas acham que um conselho, muitas pessoas, principalmente as menos democráticas, elas acham que um conselho não deve ter o caráter deliberativo. E eu ao contrário julgo que sim. Então eu tinha feito inclusive um estudo, e nesse estudo de todas as emendas, então do momento em que se fez a primeira votação para segunda, um autor, era o autor principal, um dos vereadores que é o autor das emendas, ele já colocou todas elas no sistema etc. E inclusive a alteração foi feita de prazo, extensão do prazo dizendo que ‘ah, mas não houve tempo para a gente estudar as emendas etc’, mas enfim.

Eu em relação ao caráter deliberativo eu sou favorável ao caráter deliberativo. E eu tinha até feito um estudo de todas as emendas e mostrando o porquê, exatamente porque. O caráter deliberativo é o que está assegurando na participação efetiva. Porque você faz uma participação, em geral os conselhos, ninguém é remunerado para participar, as pessoas tiram o tempo do seu, às vezes inclusive infelizmente porque a maior parte dos conselhos se reúnem durante o dia, então às vezes muitos trabalhadores têm até que dar um jeito de sair do seu trabalho para vir participar. Então assim, eu acho que é o respeito à participação, ao processo democrático participativo você dar ao conselho, você garantir o caráter deliberativo mesmo. Porque seja qual for a decisão que o conselho tomou ela teria que ser atacada. A garantia dessa decisão dela ser acatada fica mais assegurada do que se ele for simplesmente consultivo. Aí vai ficar muito na dependência do gestor executivo, porque ele pode dizer ‘não, mas é apenas uma consulta, eu não preciso implantar tal decisão do conselho’.

Bem, independente de ser, mas na verdade, eu defendo que seja deliberativo, mas na verdade independente de ser deliberativo ou consultivo, a importância do conselho é a mesma. O peso do conselho é o mesmo. E o peso da decisão é a mesma. E aí tem a ver exatamente com isso que eu falei antes, vai ser implementado ou não uma decisão do conselho exatamente a partir do bom senso ou não do gestor executivo. Porque se o Executivo, se o prefeito, ou o governador, ou o presidente for um homem autoritário, pouco democrático ele não implementa nem que for deliberativo. Porque ao fim e ao cabo de fato, quem tem a capacidade sobre as leis, de deliberar efetivamente é o Legislativo. Mas por exemplo, chegando aqui a nós uma lei que passou pelo conselho, que foi elaborada lá com o conselho, o conselho deliberou ou foi consultado. Chegando aqui é independente para a gente. A lei chega aqui com o parecer do conselho. Não importa para a gente se o conselho é deliberativo ou não, entendeu? Para nós, quando chega ao Legislativo, aqueles que valorizam o rito democrático, eles vão considerar independente do caráter deliberativo ou não. Então por isso que eu digo, o ideal é que seja deliberativo, mas não sendo não diferencia. O importante é que passe pelo conselho. Que as pessoas deliberem, que as pessoas escrevam, que o Conselho escreva um parecer. Seja uma política, que seja uma lei, seja o que for. Por exemplo, se ela tiver que ser transformada em lei, vai chegar esse parecer aqui que vai ser acatado.


# Houve uma emenda pela: remoção da competência da participação orçamentária.

A questão do orçamento ela é uma preocupação da sociedade que vem defendendo a partir de uma linha muito neoliberal, inclusive, o encolhimento dos orçamentos para o poder público, o encolhimento do serviço, encolhimento dos servidores, encolhimento de tudo. Porque? Porque quando nós estamos falando que tem uma ordem néo liberal que está comandando a sociedade, nós estamos dizendo [que] o mercado comanda a sociedade. Então é evidente que quanto mais recurso a gente tiver para as camadas populares, para as políticas públicas, para a organização dos movimentos, seja o que for, menos dinheiro estará indo para financiar as atividades econômicas, as atividades relativas ao mercado.

Eu tô dizendo isso porque se você pegar o orçamento federal, nós vamos ver que 51% do orçamento do Brasil está sendo utilizado no pagamento dos serviços da dívida aos bancos. Então nós estamos pagando, usando dinheiro público para remunerar a financeirização da sociedade na verdade. Remunerar meia dúzia de grandes banqueiros. Então para isso eu não vejo a sociedade reclamando e se mobilizando. Todavia quando você diz nós vamos usar um valor x para dotar de algum orçamento a atividade desse conselho, as pessoas reclamam. Eu não consigo conceber isso. Porque, por exemplo, o CODEM é o Conselho de Desenvolvimento Econômico aqui de Maringá, é um conselho importantíssimo. Ele não é um conselho da esfera do poder público, é um conselho da sociedade, como depois nós vamos falar sobre. Mas o CODEM ele tem garantido em lei 2% do orçamento, 2% do orçamento que daqui a pouco chega a dois bilhões de reais nosso orçamento. E o CODEM tem garantido, e ninguém se manifesta contra. Eu não vi a Ordem dos Pastores se manifestar contra a utilização de 2% do orçamento, a garantia de 2% do orçamento em lei para o conselho de desenvolvimento econômico. Então realmente eu não posso aceitar essa discussão.

Mas de toda forma eu volto a dizer, os conselhos eles não tem, porque se o município coloca um servidor, por exemplo, para cuidar, para fazer a relatoria, fazer as atas, secretariar o conselho isso já está lá incluído na remuneração que o servidor recebe. Inclusive porque, em geral, os conselhos se reúnem durante o expediente até por isso. Porque um outro servidor da Secretaria afeta aquele conselho que vai atuar, ele atua durante expediente dele. Agora mesmo que houvesse a possibilidade de contratação de um técnico para que pudesse auxiliar o desenvolvimento desse conselho eu não vejo que isso fosse um problema para o nosso orçamento de Maringá que prima tanto sabe por ser a melhor cidade, nós somos a melhor cidade do Brasil para se viver. Horas, na melhor cidade do Brasil o orçamento público tem que ter colocado para as políticas de desenvolvimento econômico e para as políticas de desenvolvimento social.


# Houve uma emenda pela: inclusão de 2 vagas no conselho a serem escolhidas pela OAB e OPEM.

Eu era contra praticamente todas as emendas. Por que? Aquilo que eu falei, os segmentos que irão compor eles foram estudados no sentido de serem representativos efetivamente das necessidades das dores, dos sofrimentos, do conhecimento, da prática e daquilo que esse segmento necessita. Eu sou contra que segmentos religiosos façam parte dos conselhos. Eu acho que as igrejas têm um papel fundamental, nós somos uma sociedade extremamente religiosa, isso é importante inclusive para nossa sociedade, para nossa cidade também é. Agora eu não vejo que o Bispo tem que estar nos conselhos. Eu não quero ver o Dom Severino sentado em um conselho de políticas públicas. Eu não quero ver o presidente da Ordem dos Pastores sentado no conselho que vai discutir políticas públicas. A OAB na verdade ela tem acento, ela tem acento onde é pertinente que ela tenha. E nesse a despeito, nós temos por exemplo a Comissão de Diversidade da OAB que estava o tempo inteiro subsidiando o poder público para a elaboração dessa lei. O poder público eu tenho certeza que foi subsidiado pela OAB na elaboração. Se a OAB ela não fazia parte do conselho nos segmentos que já estavam estabelecidos é porque certamente não cabia. Então era mais uma emenda que eu acho que não deveria prosperar de forma alguma.


# Poderia em mais detalhes sobre a razão pela qual não acha pertinente a presença de segmentos religiosos?

É porque nós estamos tratando da política pública. Nós estamos na espera dos conselhos, que é o que eu falei, são constitucionais, garantidores do processo democrático, etc. Eu acho que a igreja, as igrejas, a religião cabe um outro papel que, como eu disse, é muito importante. Os segmentos religiosos, as organizações religiosas não tem que estar nos conselhos. Por quê? Porque inclusive como é que nós fazemos então, porque que a gente está tratando aqui de espaços representativos, essa é uma questão. Em que medida que a Ordem dos Pastores pode representar o segmento LGBT? Se inclusive a gente sabe que há uma concepção muito ideologizada da Ordem dos Pastores, e isso eu estou dizendo porque eles expressaram essa opinião. Eu não tô inventando. Considerando, por exemplo, ouvi pastores dizendo em muitos momentos, considerando essa população como pecadora. Assim, como talvez um segmento católico também. Então assim a relação não pode. O que que um sensor moral estaria fazendo num espaço que não é para discutir a questão moral. Não estamos aqui no conselho vendo quem é pecador, quem é santo, quem está certo, quem está errado. O conselho é simplesmente para garantir os direitos constitucionais para todas as pessoas, independente da cor dela, do gênero dela, da sexualidade. Independente da ideologia política, independente da religião. Os direitos estão assegurados a todas as pessoas. Então é nesse sentido. Também não vai aqui nenhuma crítica, porque eu volto a dizer, acho que a religião e as igrejas cumprem um papel fundamental, mas certamente não é de elaborar política pública, mas tenho absoluta convicção disso.


# Houve uma emenda pela: remoção do requerimento que representantes da sociedade civil estarem “atuantes no campo da promoção e defesa dos direitos de pessoas LGBTI+”, passando a permitir a participação de representantes de qualquer área de promoção dos direitos humanos.

Outro equívoco. Porque os direitos humanos é o outro campo de atuação, que inclusive ele tem que assegurar à sociedade a proteção. Todos os atores dos direitos humanos, o campo dos direitos humanos, as instituições de direitos humanos têm que assegurar à sociedade a proteção contra a violência do Estado. Está muito claro.

E falar em direitos humanos, você está falando em absolutamente tudo. Estamos falando dos direitos do idoso, da criança e adolescente, o direito à cidade. Estamos falando de tudo quando se trata de direitos humanos. À moradia, à segurança alimentar, e olha eu tô falando aqui todos os que tem conselho aqui em Maringá, entendeu? A de segurança pública. Agora se eu tenho um conselho de direitos LGBT, os segmentos LGBT tem que estar nesse conselho. Se nós tivermos um conselho de bem-estar animal em que os órgãos da prefeitura que fazem a gestão do bem-estar animal não tiverem assento no conselho, o conselho tá capenga. Ele não vai conseguir construir a política. Ele não vai ter acesso aos dados. A mesma coisa, os segmentos que tem que estar presentes são os segmentos que representam efetivamente aquela política. Então assim, os direitos humanos não dão conta de tratar, a despeito de serem importantíssimos. Todos os órgãos de direitos humanos, absolutamente imprescindíveis, mas eles não conseguem abarcar a demanda certamente que as L, os G, os B, os T. Você entendeu? São estas pessoas que tem que estar compondo, são as organizações que representam cada uma dessas pessoas que tem que estar compondo um Conselho LGBTQI.


# Houve uma emenda pela: remoção da recomendação de um mínimo de 50% de representatividade feminina no conselho.

Com impaciência. Porque agora eu já estou assim. Depois quando você chegar aos 60 anos você já pode ser impaciente com várias coisas. E eu estou absolutamente impaciente quando a paridade de gênero não é garantida em qualquer espaço, entendeu? E é paridade mesmo. Diferentemente do que foi a dominação masculina, machista até hoje, eu não acho que nós temos que constituir espaço só de mulheres. Parlamentos só de mulheres, empresas com direções só com mulheres. Não. Nós temos que ter absoluta paridade de gênero em todos os espaços e no conselho também.

Então não há que remover a garantia de paridade. Fazer isso é de um retrocesso, sabe. Vai contra o que o planeta está discutindo. Não é o que o Brasil já avançou. Os países do primeiro mundo já avançaram. Não, é o planeta. Então é isso que eu venho falando para Maringá: ‘Maringá, vamos decidir que cidade a gente quer ser de verdade?’. Porque a melhor cidade para se viver no Brasil, não pode ser uma cidade que continua mantendo, não discutindo, não garantido, a presença de homens e mulheres em todos os espaços. Inclusive de forma representativa também, porque nós somos homens e mulheres na sociedade.


# Houve uma emenda pela: remoção da garantia de vagas para cada um dos segmentos que compõe a sigla LGBTI.

Da mesma forma. Um Conselho de idosos em que não tenha idosos ou segmentos que representam o I. Um Conselho da Juventude que não tem o J, ‘vamos fazer um conselho de juventude mas sem segmentos que representam a letra J tá bom’. Vamos fazer um [Conselho] de Política Urbana, mas não vamos colocar nenhuma organização da sociedade que representa as políticas de habitação e as políticas urbanas, vamos tirar o U.

É praticamente esquizofrênica. O conjunto das 22 emendas é esquizofrênico. Eu queria muito ter discutido, ter tido a oportunidade de discutir com os meus colegas vereadores estas emendas. Gostaria muito. Agora eu já esqueci, porque eu tinha estudado a matéria, eu estava com tudo na ponta da língua, sabe, para realmente questionar os meus colegas. Eu queria que eles refutassem os meus argumentos. Então eu sinto imensamente que no parlamento, naquele momento, a maioria que votou contra o conselho também votou em favor da retirada das emendas. Porque as emendas foram uma manobra para, simplesmente, para postergar. Para poder fazer a postergação do prazo, ‘porque horas se apresentaram 22 emendas e nós não tivemos tempo para discutir’, horas. Então você apresenta 22 emendas, e com isso você justifica que se postergue o prazo e depois no dia que chega a sessão você retira as emendas? Um parlamentar que atua dessa forma para mim deveria ser riscado do espaço público. Absolutamente riscado. As pessoas deviam anotar o nome dele, lembra lá, quem é o autor das emendas que depois teve mais dois sócios, dois outros vereadores se associaram a ele, e riscar o sujeito completamente para ele jamais ser eleito novamente.


# Como que a senhora descreveria a energia e as pressões no dia da votação final do projeto? Como a senhora estava se sentindo?

Eu sempre me sinto, e naquele dia mais especialmente, energizada, motivada pelas defesas que estiver fazendo. Em geral, mesmo que não tenha ninguém, ninguém esteja nem acompanhando uma certa tramitação, ainda sim eu inclusive fico muito concentrada com as questões que nós estamos discutindo com os projetos de lei que estão vindo à plenário. Naquele dia eu estava especialmente incentivada a fazer a defesa que eu pretendia fazer, inclusive por causa das pessoas que aqui estavam. Então você via a força daqueles representantes, que eu olhando de frente para a plenária eu os via ao lado esquerdo. Não, desculpe-me. Eu os via ao lado direito, que às vezes eu olhava para o monitora e invertia. Mas aqui olhando de frente para a plenária eles estavam estavam aqui do meu lado direito. E assim, eles estavam todos muito motivados. Muito imbuídos da vontade de defender algo que não era irreal, que não era inalcançável. Tava alí. Porque é algo dado a todos os segmentos da sociedade. Impossível que não fosse garantido também ao segmento LGBTI. Impossível. Então eu acho que as pessoas tinham um brilho nos olhos. Tinha gente lá fora se mobilizando. Então tinha uma energia muito muito legal, sabe. E depois essa energia se abate. Quando o resultado pela não criação do conselho, de fato há um abatimento em oposição mesmo à força que a gente sentia em um primeiro momento que me inspirava completamente. Todavia, se decidir pela não aprovação do projeto de lei para mim não me desanimou, pelo contrário. Porque eu acho que tudo faz parte do processo de construção da sociedade com qual a gente sonha.


# Que tipo de resposta a senhora teve como consequência do seu voto da 2º discussão? Por parte de constituintes, por parte de partido, por parte de organizações?

Eu tive manifestações de agradecimento, manifestações de apoio à minha posição. Como eu te falei, os meus colegas vereadores, um ou outro que faz crítica pessoal, mas eu não, eu desconheço críticas pessoais. Para mim não fazem parte. Alguém que faz crítica pessoal a mim por uma posição minha, eu ignoro. Porque não é disso que se trata o debate aqui no parlamento. Eu não posso dizer ‘você é uma’ e desqualificar a pessoa ou qualificar a pessoa em função da posição dela. Isso aconteceu, mas eu não me importo.

Agora na internet. A internet é um território que a gente vê de tudo. Então é aquilo. Eu também sofri algumas críticas, nada ofensivo, porque quando há ofensas eu tenho registrado o boletim de ocorrência na Polícia Civil, na delegacia, e dessa vez eu não registrei nenhum. Então porque não houve ofensas, mas houve críticas. Eu acho que a democracia é isso mesmo. Quem não tá preparado para ser criticado não pode vir para a atuação pública. Faz parte. Você não pode ser ofendido, mas criticado não tem problema. Então é isso.

Mas eu diria o seguinte, as pessoas que eu conheci de lá para cá, sabe, essa gente feliz, essa gente maravilhosa, essa gente que mesmo sofrendo. Eu conheci muitas pessoas novas com as quais eu nunca tinha falado, que vieram depois disso me propor, me dar alguma ideia, me propor alguma iniciativa aqui, me convidar para algum evento. Então assim, na verdade, para mim acabou sendo uma experiência de agregar. Eu agreguei agora eu aprendo muito mais. Porque eu só tenho a aprender com esses segmentos com os quais eu não havia convivido muito. Então de lá para cá, inclusive eu tenho convivido muito com a população LGBT, e assim, isso só me torna acho que uma pessoa melhor para exercer a representação da sociedade.

Porque eu não tô aqui para representar essa cor x ou y, estou aqui para representar o conjunto da sociedade. Então em alguns momentos eu tenho que tomar decisões e as tomo, mas as minhas decisões, em geral, jamais contrariaram a Constituição Federal desse país, jamais. Então nesse sentido eu tô assim muito bem. Continuo na luta inclusive com essas pessoas e com todas aquelas que tiverem lutando pelos seus direitos.


# A senhora consegue identificar algum tipo de articulação/movimento/ação que poderia ser feito para aumentar a chance do projeto ter sido aprovado?

Eu não. Não consigo. Por que? Porque eu acho que as organizações se articularam. Então alguma coisa além do que foi feito, né? Porque foi feito. Foi feito articulação, foram feitas as conversas. Eu sei que muitas entidades procuraram os vereadores todos. Quem veio conversar veio e falou com todo mundo, não deixou de conversar. Assim como a ordem dos pastores, os representantes da OPEM também falaram com todo mundo. Mas eu acho que assim, que a articulação conservadora em Maringá, nós somos uma sociedade conservadora, Maringá é uma cidade conservadora, uma sociedade mais conservadora, não vai nenhum demérito aqui, mas é fato.

Eu na verdade como o projeto era do poder público municipal, eu realmente acho que, mas aí é uma decisão do prefeito, inclusive também não vai nenhuma crítica a ele, de forma alguma. Até porque eu acho assim que com relação a questão dos direitos, ele vem caminhando. Mas muito debate, muita discussão, ele vem botando na agenda muitas questões. Seja com população LGBTI, seja com os negros, seja com os imigrantes, os ciganos, as mulheres, enfim. A gente tem visto o prefeito trazer mesmo para a pauta pública todas essas questões, fazer proposições etc. Mas de fato, eu acho que ele poderia ter feito uma articulação. E eu digo isso porque inclusive eu cheguei a enviar um comunicado para ele, não oficial, mas passando uma mensagem por aplicativo e pedindo que chegasse a mão dele nesse sentido, de que ele pudesse fazer conversas diretamente. Mas é aquilo. Eu acho que é uma opção dele, mas eu acho que isso poderia ter sido feito. Mas eu acho que não alteraria também. Talvez ele tivesse essa avaliação. Porque o próprio líder do governo, que também é muito vinculado à religião católica nesse caso, ele mesmo pediu desculpas, mas se posicionou contrariamente ao projeto, respondendo à sua base, essa base religiosa, que faz julgamentos mesmo das pessoas invés de como Jesus Cristo olhar para as pessoas como elas são, e aceitar as pessoas, amar as pessoas. Porque para mim principalmente os cristãos, acho estranho que cristão apedreje, continue a apedrejar as pessoas. Sendo que Cristo já mostrou que não era assim que era para atuar. Mas também não censuro. É o que eu disse, eu acho que na democracia é exatamente isso, as pessoas têm concepções, têm compromissos, têm bases e isso certamente pesa nas decisões.


# Houve uma crítica que: O conselho não deveria poder atuar no campo da educação.

Mas o conselho ele não tinha nenhuma atuação, nenhuma definição de atuação no campo da educação, entendeu? Na verdade essa crítica tá atrelada a um desses fake news, que infelizmente também nós temos hoje bastante gente que atua a partir de algumas invenções. O conselho iria atuar exclusivamente num espaço. Inclusive o conselho só existe no momento em que ele está reunido. Ele está alí reunido para deliberar sobre uma determinada pauta. Você não tinha atribuições dadas ao conselho que ele fosse para a sala de aula. Então isso é delírio puro, puro delírio e fake news na verdade.


# Houve uma crítica que: Não há necessidade de criar um conselho LGBT, já que essas questões poderiam ser abordadas em outros conselhos.

Não é verdadeiro. Tanto não é que não está sendo abordado em outros conselhos. O Conselho da Pessoa com Deficiência, não é o conselho para se construir políticas para a população LGBTI e assim sucessivamente. Qualquer dos conselhos que a gente pensar não cabe a elaboração, a definição, a formulação de políticas para população LGBTI. Ponto. É isso.


# Houve uma crítica que: A criação de um conselho específico para a criação de políticas públicas LGBT seria discriminatório já que defende o interesse de apenas parte dos cidadãos de Maringá, e não todos. O correto seria criar um conselho de direitos humanos para defender os direitos de todo mundo.

Esquizofrênica. Absolutamente infundada, irracional considerando o que significa criação de conselhos. Aquilo que a gente falou até aqui. Nós temos sistemas nacionais de políticas públicas. Temos Sistema de Desenvolvimento Urbano, Sistema Nacional de Educação, Sistema Nacional de Saúde, Sistema Nacional de Assistência Social, e por aí vai, Sistema Nacional de Direitos da População LGBT, da População Cigana. Acabou de ser, inclusive um aluno nosso do curso de Ciências Sociais aqui da UEM, do mestrado, ele acabou atuando um determinado tempo no governo federal, numa secretaria para formular a política nacional para população cigana. Ele foi contratado exclusivamente para isso. Ele é um líder cigano importante no país.

Então é assim que funciona. Um estado democrático de direitos ele tem os princípios, todos, que vão articular o atendimento às necessidades de todas as pessoas sim. Mas de todas as pessoas em geral, você não atende ninguém. ‘Nós estamos aqui para garantir o bem-estar de todos’. Todos quem e de que forma? Você tem que me dizer com que instrumentos? Com que recursos? Com quais objetivos? Com qual meta? Como alcançar? É isso que é política pública. É isso que o conselho vai discutir, entendeu? Então é blablablá, é discurso retórico vazio e absolutamente injusto. Absolutamente injusto.


# Houve uma crítica que: O conselho seria antidemocrático, já que apenas grupos atuantes na promoção dos direitos LGBTI poderiam participar.

Mesma coisa. Você tem 50% do segmento gov, 50% do segmento sociedade. Os segmentos da sociedade todos são afetos àquela política. Conselho do Desenvolvimento Urbano e Territorial de Maringá, você tem no gov inclusive, não vem a Secretaria da Mulher para discutir política de desenvolvimento urbano e gestão territorial, vem as Secretarias de Habitação, de Saneamento, de Desenvolvimento Urbano, entendeu? Então você tem o gov articulado aqui com a sociedade. Quais segmentos da sociedade? Os segmentos que estão afetos ao desenvolvimento urbano. Assim como qualquer outro conselho. Os segmentos da sociedade que compõem um determinado conselho junto com o governo são todos os segmentos vinculados àquela política, àquela população que está sendo tratada. Então é outra falácia retórica. Uma palavra legal, que define bem o quê que é isso. Uma absoluta falácia retórica. Não posso admitir um argumento desse. Ele sim é um argumento preconceituoso, e segregador, e injusto, e pouco democrático porque não está admitindo que a população LGBTI componha o Conselho de Direitos LGBTI.

O CODEM que é um conselho da sociedade, o Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá, ele é composto por segmentos econômicos. Segmentos vinculados à economia, à política de desenvolvimento econômico, à atuação seja no comércio, na indústria, nos serviços, entendeu? Não tem na composição do conselho uma cadeira para população LGBTI, no Conselho de Desenvolvimento Econômico, entendeu? Você pode funcionar com câmaras técnicas, depois no regimento do conselho, cada conselho pode instituir câmeras de assessoria técnica, de discussão técnica. Mas esse suporte técnico não seria componente da população de que se está tratando.


# Houve uma crítica que: O caráter deliberativo e fiscalizador permitiria ao conselho patrulhar o pensamento e a conduta das outras pessoas, fazendo com que líderes religiosos se sentissem ameaçados de poder sofrer algum tipo de sanção do conselho.

A minha fala para a questão anterior vale para a agora. É que às vezes as pessoas julgam os outros pela forma dela atuar. Então pode ser que as pessoas que tenham feito essa crítica sejam pessoas que de fato fazem patrulhamento do pensamento do outro, impõe o seu pensamento, e acha que todo mundo atua assim, e não é assim. E não é assim. Muito pelo contrário. Um conselho tem poder, mas tem poder na pactuação que se vai fazer de políticas, de utilização de recursos para esta ou aquela finalidade, etc. E nesse caso o Conselho LGBTI, ele nem era um conselho gestor de fundo, ele nem inside a questão orçamentária, entendeu? Não incide. Os conselhos que têm como pauta a definição orçamentária, são os conselhos de gestão de fundo de orçamento. Por exemplo, o Conselho Gestor do Fundo de Habitação, esse vai decidir onde que os recursos da habitação serão utilizados. Mas não é o caso, esse aqui é um conselho que diz respeito às políticas públicas garantidoras dos direitos da população LGBT. Só.


# Houve uma crítica que: Seria negativo o secretário executivo receber uma gratificação pelo desempenho do cargo.

É a mesma coisa. É o que eu falei, a maior parte dos conselhos não tem qualquer remuneração a qualquer dos componentes. Alguns conselhos têm. Se a gente ver aqui a reforma administrativa que acabou de chegar na câmara, e está aí tramitando, o CODEM não tem apenas secretaria executiva, como tem diretoria executiva, como tem outros cargos, e hoje menos ainda do que já teve, houve os momentos em que havia dezenas de cargos. Dezenas não, havia seis, sete, oito cargos com recursos. Nunca vi a sociedade reclamar disso, hoje ainda se mantêm três cargos na organização administrativa da prefeitura para atuar lá no Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá, que nem é um conselho da órbita do poder público. É um conselho composto apenas por segmentos da sociedade.

Então eu até convido as pessoas que são contra, que agora virem aqui na câmara, que vai começar o debate, vai começar a discussão, venham para cá e se posicionem contra a manutenção desses cargos. Porque esses cargos, desde 1986 quando foi o CODEM foi criado, salvo engano, ou foi 2000? Não, perdão. Eu realmente agora eu não sei essa data, mas é algo 2006, com certeza. Não, 96 mesmo. A partir de 96 quando o CODEM foi criado, foi criada uma estrutura de cargos públicos para a manutenção e eu nunca vi nenhum órgão, nenhum, mas nenhuma entidade da sociedade reclamar contra isso.

Eu fiz um levantamento, já foram aportados milhões de reais desde o primeiro momento só na remuneração das pessoas que atuam. Então hoje está aí agora três cargos colocados na estrutura, convido essas mesmas pessoas que são contra que um um secretário executivo, fique atuando no conselho LGBT e que venha também agora se posicionar. Essa mesma pessoa tem que vir aqui se posicionar contra três cargos para a estrutura do Conselho de Desenvolvimento Econômico.

Eu não sou contra, diga-se de passagem. Eu não sou contra. Eu acho que o único problema que eu vejo é: um ou outro têm, a maioria não têm. Então eu acho que valeria apenas se fazer um debate em relação à estrutura. Vai se manter para um, dois, três, quatro–que eu acho que é mais ou menos esse conjunto que tem–e pros demais não? Então, o que que pode justificar? Eu acho que isso a gente tinha que fazer, esse debate nós temos que fazer. Então vamos debater se os conselhos terão cargos com recursos do orçamento público e dotados na estrutura administrativa, que é assim que tem sido, por que que uns podem e outros não podem? Se um pode, dois podem, quatro podem: todos devem poder ou então nenhum mesmo. Agora essa diferenciação de fato, eu não sei.


# Houve uma crítica que: O conselho não seria apartidário.

Infundada. Porque todo brasileiro tem o direito de ter opções partidárias, ideológicas, religiosas. Que bom! Nós somos livres. Todos. A nossa Constituição, a nossa democracia hoje garante liberdade de crença, religiosa portanto, política. Então assim, eu acho que você não pode fazer patrulhamento de qualquer forma. Mas não é um partido político. Ou é? Eu acho que eu me enganei. A proposta era de projeto de lei de criação do partido LGBTI? Não né. Era do Conselho Municipal de Direitos LGBT. Então é uma crítica absolutamente neurótica. Não cabe. Não faz parte. Não é um partido que tava sendo criado. E seria excelente, eu acho que a posição partidária ela está posta em todos os demais conselhos. Apesar de alguns conselhos terem lá no seu regimento que as pessoas não podem ser filiadas. Isso é uma opção. Okay. Acho também, se você for filiado a algum partido você não pode participar de determinado conselho, é lícito fazer isso desde que seja um regimento aprovado pela maioria, mas não é o caso. Mais uma dessas fakes, mentiras acionadas exclusivamente para colocar a opinião pública contra o conselho.


# Tem algum conselho ou dica que a senhora daria para pessoas em outras cidades que estão pensando em implementar um projeto similar?

Como eu sou uma defensora da democracia, não apenas representativa, mas participativa também. E é exatamente isso. Assim como eu acho que as pessoas têm que vir para esse da política tem que vir para os espaços públicos, têm que participar dos rumos da sociedade. Seja na esfera representativa, e aí ela vem para o partido político e vai se candidatar e etc. Seja na esfera participativa. E aí essa juventude tem que participar das organizações de juventude, dos grêmios estudantis, das ONGs, sabe das associações, as mais diversas. Assim como os idosos, assim como a população toda. Eu acho que assim como tem que vir para, se não para as organizações da sociedade, para as organizações governamentais do arco do poder público. E aí os conselhos, têm que participar das assembleias territoriais, têm que participar das audiências públicas, das conferências. A população tem que vir ajudar a construir os rumos da sua própria vida e essa construção se dá no espaço público. Se dá na elaboração das leis, se dá na definição orçamentária, para onde vão os recursos.

Então o meu conselho é sempre no sentido de se não tem conselhos do seu segmento na sociedade você tem que fazer. Se não tem um conselho LGBT tem sim que sensibilizar o prefeito para construir, para criar o conselho. Se o prefeito não se propuser, ou se propuser e a câmara virar as costas para o seu povo, há que fazer como Maringá fez. Construir um conselho, nós podemos construir um espaço de elaboração, e de discussão, e de fomento às políticas LGBTI. E aí registrar isso. Registrar essa organização como conselho assim como aqui em Maringá é o Conselho de Segurança, que é um conselho importantíssimo em Maringá, ele é um conselho de esfera da sociedade. O CODEM é um conselho da esfera da sociedade, ainda que tenha depois sido criado lei para ele. Tem uma lei que regula um conselho da sociedade e não tem uma lei que regula o conselho que o prefeito organizou para ser um conselho LGBT em Maringá.

Mas o que eu digo, o que eu o incentivo é construa esse tipo de espaço. Espaço que vai fomentar políticas para responder aos problemas LGBTI. É importantíssimo. Nós precisamos construir empregabilidade, por exemplo, para as pessoas trans. As pessoas trans têm as maiores dificuldades. A questão da saúde, do atendimento à saúde para população LGBTI é importantíssimo e assim sucessivamente. Tem os mais variados problemas que essas pessoas estão vivenciando e elas tem direito a que o poder público, e o recurso público, orçamento público seja utilizado também para responder à necessidade que elas têm.

Portanto vamos ampliar sim, criar as nossas organizações sociais, mas também essas organizações da esfera pública para que a nossa sociedade vá ficando mais justa, mais igualitária e mais legal para todo mundo.


# Está ocorrendo uma organização para a criação do conselho como organização não governamental, na forma de uma associação. Qual sua avaliação disso?

Eu sou uma entusiasta disso desde o primeiro momento. Inclusive eu fiz parte um pouco desse diálogo exatamente naquele final do processo em que a câmara de vereadores diz não. E aí as pessoas um pouco abatidas, perdidas, ‘E agora? Acabou. Não vamos ter um conselho?’. E aí se vai conversando, e eu estava alí naquele diálogo que ajudou a fomentar essa possibilidade. Eu acho muito bacana, sabe porque inclusive assim mostra o amadurecimento democrático da sociedade. Horas. É possível, criar então essa organização, inclusive com esse nome mesmo, sabe? Registra-se como uma associação, como uma ONG, como uma OSCIP. Tem as mais diversas organizações sociais com o nome Conselho de Direitos LGBTI de Maringá. Pronto. Eu acho maravilhosas essa iniciativa. E depois assim, aí depois as organizações, aquelas mesmas que fomentaram todo o processo, desde ir lá e provocar o prefeito a fazer, essas mesmas organizações estão amadurecidas. Olha que maravilha, elas vão e constroem, e fazem. Terminamos o ano de 2021 com a notícia de que tinha sido criado o conselho em Maringá, maravilha. Muito legal mesmo.


# Que futuro a senhora enxerga para as políticas públicas para a população LGBTQIA+ em Maringá?

Eu sou uma otimista. Não sou ingênua. Mas por que que em Maringá eu vejo com muito otimismo as políticas, por que? Por causa da organização da sociedade. Por causa das entidades. Eu não sabia que tínhamos tantas organizações aqui em torno das pessoas LGBTQIA+. Exatamente são essas pessoas que vão construir o processo. Mesmo que o conselho no arco do poder público tivesse sido criado, aprovado, ainda assim, se você não tiver a participação das pessoas, o envolvimento, as organizações acompanhando às vezes não avança.

Basta, se vocês forem dar uma levantada nas ações de todos os conselhos aqui de Maringá, você vai ver que alguns estão ali assim, não tem quase nem reunião. Cadê o calendário de reunião de conselho x. Horas, se reuniu faz 8 meses, horas. Por que? Porque não tem sabe essa efervescência, essa energia, essa politização. E politização aqui no sentido de se identificar cidadão de direitos, sujeitos de direitos que vão estão organizados para cobrar. Então por isso eu vejo com muita, fosse a organização no arco do poder público, seja essa agora um conselho da sociedade, eu vejo que o caminho, de qualquer forma, seria mobilização o tempo todo. É mobilização. Por quê? Porque os recursos são o tempo todo disputados, e quem está levando a melhor não são os segmentos populares.

Basta a gente ver, horas, tem aí mais de 20 mil famílias esperando a casa própria, tem conselho, tem fundo de habitação social e as pessoas não têm casa própria. Você tem uma falta, aqui em Maringá por exemplo, teve quando Minha Casa Minha Vida estava despejando dinheiro no Brasil para todos os prefeitos, principalmente de cidades com mais de 50 mil habitantes, era assim o Ministério da Cidade ligava para oferecer dinheiro para as prefeituras. Mesmo naquele momento, por que que ao invés de se fazer 20 mil unidades e acabar com o déficit habitacional aqui em Maringá, se fez 2000, nem isso? Porque o governo naquele momento, o gestor da hora, o governo Barros não tinha interesse em fazer moradia social. Não tinha porque se tivesse teria feito. Então ele pode falar o que ele quiser. Mas eles não tinham interesse em implantar habitação social em Maringá, e nós sabemos porque.

Mas também não tinha organizações de moradia, não tinha cooperativas de moradia, não tinha movimentos de moradia que fosse para frente da prefeitura e botasse as barracas lá, as suas barracas. Porque eles não tem casa, entendeu. Você não tinha organização, que tem na população LGBTI. Então é por isso que eu acho que às vezes você pode até ter o recurso, pode até ter o conselho, pode até ter a secretaria mas se você não tiver essa vida, e essa luta para que as coisas aconteçam vai continuar não acontecendo. E nós temos.


# Tem algo a mais que a senhora gostaria de dizer? Alguma conclusão?

Bem, a conclusão é sempre no sentido de que? O que nós estamos vivenciando, as pessoas olham para o nosso país, e a gente tá vivendo uma democracia muito principiante. Então todo esse processo, todas as bandeiras que cada coletivo por menor que seja defende, assim como um grande movimento seja o que for, é fomento e é um tijolinho a mais que é colocado sabe na construção da nossa democracia. Então eu acho assim, a minha fala é sempre um incentivo de que a gente participe, a gente aproveite essa extraordinária constituição que nós temos. Porque infelizmente essa já é a sétima desde que nós nos tornamos a República Federativa do Brasil, nos tornamos independentes da corte portuguesa. A gente vem, o Brasil vem fazendo Constituição, revogando, fazendo outra. Isso não existe. Hoje nós temos uma constituição maravilhosa que dá as condições pros cidadãos de fato participarem atuarem e decidirem. E nesse sentido então nós temos que ocupar esses espaços sabe. Vir para todas essas esferas de participação.